Esta semana o Presidente da Reserva Federal americana deu indicações que poderia aumentar as taxas de juro mais cedo do que antecipado, já em março. O BCE, pelo seu lado, tem mantido uma política mais cautelosa. O que explica a diferença entre as duas posturas é o crescimento e a inflação.
A dificuldade com a inflação é que o mesmo sintoma pode ter origens muito diferentes. A inflação pode subir de forma descontrolada se houver uma redução da oferta, por exemplo, de energia, mas também se houver um aumento significativo de procura não acompanhado pela oferta, ou seja, um sobreaquecimento da economia. No segundo caso, a resposta de política monetária é clara. Deve-se ser mais restritiva para desacelerar a procura das famílias e das empresas. No entanto, a resposta ao primeiro caso, um choque negativo do lado da oferta, é mais difícil de gerir. De facto, se o BCE subir as taxas de juro mais rapidamente isso não incentiva um aumento de produção, antes pelo contrário, causa mais dificuldades financeiras às famílias e às empresas.
Atualmente, o que complica a decisão dos Bancos Centrais é que as duas coisas estão a acontecer ao mesmo tempo. Por um lado, a procura das famílias e das empresas tem aumentado tanto nos Estados Unidos como na Europa, por via da recuperação pós pandemia, e graças a programas públicos de investimento muito favoráveis dos dois lados do Atlântico. Note-se que o programa americano é substancialmente maior do que o europeu. Entre março de 2020 e setembro de 2021 a Administração americana transferiu apoios para a economia para fazer face à crise no valor de 2,5 biliões de dólares enquanto na União Europeia a dívida total dos Estados Membros aumentou 1,7 mil milhões de euros.
Por outro lado, existem sinais de um choque negativo de oferta. A nível energético a Rússia está a reter uma parte da produção de gás que habitualmente exporta para a Europa, levando os preços para níveis máximos. Os preços dos combustíveis também estão a subir dos dois lados do Atlântico. Mas a situação do mercado de trabalho é muito diferente. No terceiro trimestre de 2021, a percentagem de adultos que estão empregados ou à procura de emprego atingiu um nível máximo de 74,3%, um ponto percentual acima do nível pré-pandémico. Já nos Estados Unidos assiste-se a um fenómeno de transformação do mercado de trabalho que não é inteiramente fácil de explicar, em que cerca de 4 milhões de americanos não regressaram ao mercado de trabalho desde que a pandemia abrandou.
Atualmente, a recuperação americana é mais robusta do que na Europa. O PIB cresceu 6,9% em 2021 nos Estados Unidos face a uma expectativa de 5% na UE. A inflação também é mais elevada, chegando aos 7% em dezembro face aos 5% na UE. Mas o que os dados mostram é que à medida que a pandemia começa a regredir, as pressões inflacionistas podem subir rapidamente e passar a afetar as expetativas das famílias e das empresas, o que poderá obrigar o BCE a mudar de rumo.